JULIO EMILIO MOLINÉ: “O Brasil estava sofrendo uma epidemia de "carros-bomba" naqueles dias, (...) e a ditadura utilizou esse fato para evitar os concertos de Joan para "proteger o público".
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Joan Baez maio1981 ©Julio Emilio Moliné |
Depois daquela turnê histórica na que Joan Báez aterrorizou
tanto assim aos ditadores da Argentina, o Chile e o Brasil, que eles ameaçaram de morte a ela e foi proibida de cantar, entre outras coisas, a lendária
cantora, compositora e pacifista dará shows este mês de março nos mesmos
países onde seu canto fez tremer aos
genocidas em 1981.
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Joan Baez e Laura Bonaparte, México, maio 1981 ©Julio Emilio Moliné |
“A bela Laura Bonaparte era uma psicanalista argentina. Em 11 de Junho de 1976, seu marido, bioquímico, foi levado de sua casa, na frente dela e nunca mais viu a ele. Quando ela foi à procura de sua filha, que também tinha “desaparecido”, eles deram-lhe uma mão num frasco de vidro para que ela fizesse a identificação”. Joan Báez And a Voice to Sing With (autobiografia
Graças a Joan Báez por sua valente e amorosa turnê de 1981 para trazer consolo, alegria
e esperança às vitimas das ditaduras de Pinochet, Videla e João Baptista de Oliveira Figueiredo.
Graças a Joan Baez porque apesar de ser
ameaçada de morte, perseguida, proibida, ficou ao lado de nós, nos cantou e
mostrou ao mundo o horror das ditaduras no maravilhoso documentário: “Joan Baez in Latin America: There but for Fortune”.
Graças a Joan Baez porque ela deu voz, rosto e
humanidade ás vítimas.
Graças a Joan Baez por denunciar da mesma maneira os crimes cometidos pelas ditaduras de
direita, de esquerda e as democracias.
Graças a Joan Baez
por sua luta pelos direitos humanos, sua oposição às guerras, a carreira
armamentista, as discriminações, os regimes totalitários.
Graças a Joan Baez por fazer-me conhecer aos
16 anos a não-violência e a sua diferença com a passividade.
Graças a Joan Baez porque sua luta não se
limita a cantar e dar declarações à imprensa, como esse documentário e esta
reportagem (entre muitos outros fatos) provam.
Graças a Joan Baez por sua voz, que acalma todas as dores.
Graças a Joan Baez por ser faro e bandeira, mas também dúvida.
E graças Julio Emiio Moliné por compartilhar parte de suas lembranças e fotos daquela corajosa turnê da Joan Baez na América Latina... cá, por fortuna.
"Na Argentina, foi onde mais ameaçaram a Joan, nos expulsaram
de um hotel, jogaram bombas de gás lacrimogêneo (...) havia sempre um
Ford Falcon sem placas nos seguindo por toda parte. Dentro dele estavam quatro
rapazes misteriosos."
Julio, como é que você
se integrou à turnê humanitária e shows que Joan Baez realizou em 1981 pela
Argentina, o Brasil e o Chile para mostrar sua solidariedade com as vítimas
dessas ditaduras?
Uma manhã de
segunda no final de abril de 1981 recebeu um telefonema no trabalho (eu trabalhava numa emissora de TV) do meu amigo John Chapman, um cineasta independente de São Francisco. Ele me
disse: Você gostaria sair de turnê por América Latina com Joan Báez por um mês?
O que você acha? Filmamos a ela e fazemos um documentário.”
Eu falo espanhol,
tinha vivido muitos anos no Chile e viajado pela Argentina, então John pensou que eu era um bom parceiro para esta aventura. John era um cara
muito interessante. Um pouco mais
velho do que eu, ele tinha trabalhado em Apocalypse Now com Francis Coppola. Até está
como figurante numa das últimas cenas do filme. Em 1978 ele foi para a Nicarágua
durante a Revolução Sandinista e filmou um documentário muito bom, Scenes of a Revolution. Como eu também tinha filmado em Nicarágua, em seguida nos
tornamos amigos.
Eu disse que sim, embora não tinha férias e teria que obter permissão sem salário. O outro problema
era que minha esposa ficava grávida e nossa
filha nasceria durante a turnê, então precisava falar com ela primeiro. Generosamente
ela disse que sim. E nossa filha nasceu quando eu ficava em Buenos Aires.
Essa segunda à noite quando recebi o telefonema de
John, nós nos encontramos com Joan em um
restaurante chinês em Palo Alto. Joan
me deu o aval e começou os procedimentos de preparação.
Qual foi sua
impressão de Joan?
Eu me lembro de estar
um pouco chocado por estar comendo arroz chinês com uma pessoa tão famosa. Além
de ser uma mulher muito bela, ela foi muito amigável e cálida. Ela fez muitas
perguntas sobre a América Latina, algumas com boa informação e outras não tanto e pagou pela comida.
Ela me deixou uma
impressão muito boa por sua cortesia e seu bom humor.
(...)
Fragmento do livro (espanhol) ENTREVISTAS