"Mi dolor de exilio es tan grande que cubre todo mi cuerpo.

Muevo un dedo del pie y sufro".

Lejos de casa


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"Porta Aberta ao Mar" peça de teatro de viviana marcela iriart / Ed. Escritoras Unidas & Cía. Editoras, Janeiro 2017







FRAGMENTO



Argentina, aproximadamente 1990. A sala de uma casa velha. É um lugar cálido, com poucos elementos. Um janelão; um abajur de pé, apagado, quem terá uma luz muito cálida quando seja ligado; um cabide, um sofá.

É o final da tarde de um dia de inverno.

Sandra, exilada argentina de uns quarenta anos, chega à casa de Dunia, amiga da infância da mesma idade, depois de mais de dez anos de ausência.  

As duas estão vestidas informalmente, percebendo por a forma de vestir-se que são duas profissionais modernas e de sucesso.

Sandra e Dunia manterão sempre um estrito controle de suas emoções: temem esgotar-se. Podem alçar a voz, mas não gritar, rir com alegria verdadeira mas não às gargalhadas, emocionar-se até as lágrimas mas não chorar com desesperança. Nunca perdem a compostura.

O que elas receiam manifestar com palavras exprimem-no a través da dança: uma dança moderna e à vez antiga, como seus conflitos.




Ato Único
    
O cenário está na penumbra.

Escuta-se a Susana Rinaldi cantar Por que vai vir, (Porque vas a venir)  de Carmen Guzman e Mandy, até o momento no que as personagens falam.

Dunia entra pelo lateral direito, emocionada, nervosa. Senta-se, para-se, vai de um lado ao outro. Está muito contente. Quase não pode conter o riso.

Pelo lateral esquerdo faz sua aparição Sandra. Está nervosa e emocionada, mas seus movimentos são lentos e controlados. Detêm-se quando chega ao janelão, que se ilumina tenuemente com uma luz cálida. Olha para o interior mas não vê ninguém. Dunia tem saído de cena nesse momento. Avança até o proscênio

Dunia entra e não a vê. Vai até o proscênio.

Até que se indique o contrario, Sandra e Dunia atuarão como se estiveram num sonho. 

Não se olharão nem tocarão jamais. Quando falam, é como se falassem consigo mesmas.

  
“Por que você vai vir, minha casa velha
inaugura uma flor em cada grade.
Por que vai chegar, depois de tanto,
confundem-se em mim, risos e choros.

Sei que vai vir não o diz,
mas vai chegar uma manhã.
Na minha voz há um canto, já não estou triste
e entra um raio de sol por minha janela.

Porque vai chegar, de uma longa viagem,
é diferente a cor, outra a paisagem.
Tudo tem outra luz, tem outro jeito,
porque vai chegar depois de tudo.

Porque vai vir, desde tão longe,
hoje voltei olhar-me no espelho.
E como me verão, perguntava-me,
os olhos desse hoje que eu esperava.

Porque vai vir, minha casa velha,
inaugura uma flor em cada grade.
Porque vai chegar, é que espero-lhe
porque você me quer e eu te quero.
Porque vai chegar, é que eu te espero.
“porque você o quer e eu o quero.”


SANDRA (como se estivera sozinha, sem notar à Dunia)
E então pensei, terá mudado muito? Terei mudado tanto?

DUNIA (Na mesma atitude de Sandra)
Eu esperava impaciente. Olhava-me nos espelhos e perguntava-me com que olhar veria estas rugas que pegaram meus olhos sem os seus. Reconhecer-me-ia  com estes cabelos brancos que não lhe contei?

SANDRA
A rua de sua casa parecia a mesma. A laranjeira na esquina do quitandeiro, as lajotas ainda quebradas no armazém de Dom Giuseppe, a magnólia que jamais quis dar flor. Mas sobre tudo o cheiro da laranjeira que sempre anunciava a cercania de sua casa. Tudo parecia igual.

DUNIA
Sua voz ao telefone, alegre e brincalhona, outra vez cá e não lá, a mesma voz de sempre e juro-lhe, tive vontade de comer-me o auricular para comer-me sua voz para que jamais fosse embora.

SANDRA (Põe-se de costas)
Confesso: tive medo. A campainha estava ali, pequenina e lustrosa. Parece um mamilo, pensei, um mamilo que convida ao erotismo, mas não, essa campainha-mamilo convidava-me ao passado, e eu dizia: o toco, não o toco. Estendia um dedo e acariciava-o lentamente, sem pressioná-lo, não seja que se excite e soe. Meu dedo lhe recobrava em minha memória.

DUNIA (Põe-se de costas)
Eu olhava-lhe a traves do olho da porta, a qual das duas via? Os anos passavam pelo olho de vidro, não me deixavam vê-la.

SANDRA (Avança devagar de costas até Dunia)
Meu dedo seguia na campainha. Uma porta tossiu debilmente e eu a escutava. O mamilo que geme não ia ter que ser tocado. Traspassei a soleira e arrimei meu peito, meu corpo todo sobre a porta.

DUNIA (Avança lentamente de costas até Sandra)
Eu  vi-la e colei meu corpo no exato lugar onde você tinha posto o seu. Uma porta separava-nos e uma porta unia-nos. Eu estava-me afogando e pensei: não há beira perto nem salva-vidas na cercania.

SANDRA
Sua respiração na minha orelha asfixiava-me, não me deixava pensar.
Eu enlouquecia, eu desvanecia.

DUNIA
O ar de sua boca dava-me calor e eu ia enchendo-me de doçuras velhas. 
O ar de sua boca queimava-me, eu era um bonzo.

SANDRA (Se para muito perto das costas de Dunia, sem tocá-la)
Seus dedos arranhando a madeira, arranhando e gemendo, como uma gata vagabunda em ponto de parir lembranças mortas.

DUNIA
Senti que se deslizava pela porta até chegar ao chão e a alcancei para não se bater.

SANDRA
Sua costa cravava-se na minha, me atravessava. Eu sofria, eu gozava.

DUNIA
Você chorava, você que jamais chorava, com um choro que não lhe conhecia.

SANDRA     
Você chorava e suas lágrimas tinham a mesma dor que sempre lembrava.

 DUNIA
Escutei-lhe dizer: por fim há voltado.

SANDRA
E escutei-lhe contestar: por fim hei regressado.

Susana Rinaldi canta “O coração ao sul  (El corazón al sur) de Eládia Blázquez. Sandra e Dunia miram-se por vez primeira, ainda estranhas, e dançam um tango mistura de coreografia clássica com moderna. No principio dançam mantendo a distancia de duas pessoas que não se conhecem; na medida em que o tango avança tomam confiança.


“Nasci num bairro onde o luxo foi uma sorte,
por isso tenho o coração olhando ao sul.
Meu pai foi uma abelha  na colmeia
as mãos limpas, o alma boa…

E nessa infância, a temperança forjou-me,
depois a vida tendeu-me mil caminhos,
e soube do magnata e do batoteiro,
por isso tenho o coração olhando ao sul

Meu bairro foi uma planta de jasmim,
a sombra de mina mãe no jardim,
a festa doce das coisas mais simples
e a  paz na relva de cara ao sol.

Meu bairro foi minha gente que já não está,
as coisas que já nunca voltarão,
se desde o dia no que fui embora
com a emoção e com a cruz
eu sei que tenho o coração olhando ao sul!

Levo em mim a geografia do meu bairro,
será por isso que não parti para sempre,
a esquina, o armazém, a garotada
os reconheço… são algo meu…

Agora sei que a distancia não é real
e descubro-me nesse ponto cardinal,
voltando a infância desde a luz,
tendo sempre o coração olhando ao sul!”



SANDRA
As vezes que Miri chorou cantando esta canção. Claro, desde Venezuela, “sul” significava Argentina. (Pausa. Sorri) Nos sentávamos num café em Sabana Grande e púnhamo-nos a lembrar. “Lembra-se da rua tal?"  “Claro! E você, lembra-se daquela esquina, daquela fragrância, daquela luz essa manhã?" (Pausa) Inevitavelmente surgia o tema das comidas... os sanduíches de “miga”! Você pode acreditar que na Venezuela não há sanduíches de "miga"? Agora que o tempo passou, penso que há poucas coisas tão bobas como ter saudades de uma comida, mas então... (Pausa) E assim, entre lembrança e lembrança, a mesa ia-se enchendo de gente, gente que sabia que Miri cantava, amadora só, e então... o que lhe pediam?

DUNIA
Miri cantava, os olhos iam-se-lhe enchendo de lágrimas e no final, quase como se o tivesse preparado, como se fosse uma atuação, com a última frase... uma lágrima caia.


SANDRA (Agradavelmente surpreendida)
Tem boa memória.

DUNIA
As vezes que me contou por carta! Se parecia que as sextas pela noite, a única coisa que você tinha para fazer era ir a Sabana Grande escutar Miri cantar...(Cantarola “O coração ao sul”)

SANDRA
E a lembrar. E... eu também chorava, sabe? Por que quando arrancam-lhe de sua terra e lhe deixam sem raízes no ar numa terra alheia, que outra coisa pode fazer senão chorar?

Ficam um instante em silêncio.

DUNIA (Está emocionada mas trata de dissimular)
E o quê foi da vida de Miri?

SANDRA (Sorri com ternura)
Passou-se todo o exilo chorando porque não suportava a distância. Quando tudo acabou teve medo de voltar… como eu…e ali está, ainda em Caracas, cantando o mesmo tango, dizendo: “No próximo mês regresso para sempre”. E o próximo mês não chega nunca.

DUNIA
Estranho paradoxo. Vocês sentindo saudades por um país que nós queríamos abandonar, qualquer pais era melhor do que este. Não se imagina a inveja, sana, mas inveja no fim, que me dava cada vez que recebia uma carta sua e estava no México, na Londres, em Nova Iorque... Porque nós estávamos... bem, como estamos agora, longe do mundo.

SANDRA
E eu invejava-lhe quando em suas cartas falava-me de seus passeios pela cidade... por minha cidade, reduzida a ser um mapa colado na cortiça de meu cozinha.

DUNIA
Mas quando moravas aqui... que feio parecia-lhe tudo! Não fazia mais que criticar,
lembra-se? Não havia país pior do que este.

SANDRA (Zombando-se com carinho)
Nem melhor. Porque nós ou somos os piores ou somos os melhores, mas iguais... jamais! Porque isso de ser como os latino-americanos... por favor! Nós somos europeus... ou éramos? Desde criança e como uma ladainha escutei essa frase, como se o ser europeus nos fizesse especiais e melhores.

DUNIA
É verdade. Depois sacaneávamos contra o italiano, a galega, o russo, o francês. Mas como gostávamos de ser europeus!

SANDRA
Até que a guerra das Malvinas chegou. Deve haver sido duro acordar um dia e
repentinamente... horror!  ser latino-americanos!!

DUNIA
Imagine-se, se Victoria Ocampo dizia que em Paris éramos exilados argentinos e em Buenos Aires exilados europeus. Mas a guerra pôs-nos em nosso verdadeiro lugar geográfico.

SANDRA
Tomara que não precisemos de outra guerra para aprender o que nos falta. (Pausa longa) E bem, parece que vou ser condenada agora.

(...)

Caracas 1984-1992


A: 
Sonia M.Martin, sempre, por tudo; Yamelis Figueredo e Elly Messmer porque acreditaram em mim quando nem sequer eu acreditava em mim;  Doris Berlín pela vida que me deu; Rubén Rega por suas críticas e sugestões;  Fanny Arjona por sua amorosa compreensão.

Às vítimas das ditaduras e revoluções de direita, esquerda, centro...





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 Porta Aberta ao Mar: vìdeos


Rosalinda Serfaty y Fedra López. Foto: Roland Streuli




Obra estreada o 14 de Abril de 2007 na Sala de Concertos do Ateneo de Caracas, Venezuela, no ciclo “Três dramaturgas do silêncio ao estalido”, em homenagem a Esther “Dita” Cohen.



       
Sandra                        Rosalinda Serfaty
Dunia                          Fedra López

   
Realização cenografia: Ramón Pérez Pina 
Telão: Jesús Barrios
Assistente direção: Carlos Ramírez 
Assistente produção: Sonia Diaz

Musicalidade: Eduardo Bolíva
Cenografia e figurino: Carmen Garcìa Vilar
Iluminação:Carolina Puig
Produção artística: María Eugenia Romero-Carolina Puig 
  
Coreografias: Luz Urdaneta
Diretor: Anìbal Grunn
Produção Geral:Benjamìn Cohen         












"Lejos de Casa" de Viviana Marcela Iriart / Escritoras Unidas & Cía. Editoras, mayo 2015








“Y estamos marchando todavía en las calles
con pequeñas victorias y grandes fracasos
pero hay alegría y hay esperanza
y hay un lugar para ti.”

Joan Báez



Hay un aeropuerto llamado Ezeiza.
Hay otro llamado Simón Bolívar.
Entre los dos media un camino muy largo llamado exilio.
Vivo en un país que no es mío.
Vengo de un país que alguna vez creí mío pero no era cierto.
Vivo sobre la tierra no sobre un mapa.
Y con la gente no con sus pasaportes.




“Sí, yo estaba ahí el 17 de mayo de 1979 y claro que recuerdo lo que sucedió. Lo recuerdo muy bien porque nunca antes yo había participado en algo así y no lo puedo olvidar. Es más, a veces he tenido pesadillas. Sueño que levanto la mano izquierda para despedir a alguien y que entonces ¡zas! me la cortan de un hachazo.

No es agradable, no, pero bueno, yo estaba ahí haciendo el servicio militar y me había tocado la zona del Aeropuerto de Ezeiza, aunque para ser más precisos, estaba exactamente en la alcabala que la Fuerza Aérea tiene en la ruta que va al Aeropuerto, ¿la conoce? Bueno, ahí estaba yo.

Ese día era un lindo día, sí, jueves si no me equivoco, con mucho sol, y como a eso de las nueve y media de la mañana sentimos un gran alboroto de sirenas que se acercaban en dirección a nosotros. Pude distinguir tres  autos que avanzaban a gran velocidad. Uno de ellos, el primero, era de la Policía Federal e iban en él tres hombres. Entre éste y el último, que también era de la policía pero sin inscripciones, de paisano que le dicen, había otro. Era un Ford blanco y por la chapa supe que era de algún diplomático y ahí había cinco personas: cuatro hombres y una piba. Yo estaba mirando todo desde adentro de la alcabala cuando escuché los gritos. Los de la Federal siempre andaban matoneando y ese poli no era la excepción, aunque los de la Fuerza Aérea... en fin... yo escuché que el poli decía que era una misión muy delicada, emanada directamente desde la Junta, y a mi cabo gritando aún más fuerte que por más misión especial que fuera ellos no pasaban sin que él y “sus” muchachos los escoltaran. El cabo era muy joven, 22 o 23 años le calculaba yo, y el poli andaba por los 40 y se tuvo que comer la humillación. Finalmente llegaron a un acuerdo.

Cinco de nosotros partimos al frente de la caravana en un camión. Yo y dos de mis compañeros íbamos sentados en la parte de atrás, con los pies colgando fuera del camión y las ametralladoras ligeramente apuntando a los autos que nos seguían. Ordenes son ordenes y en el servicio militar nada se discute. Estábamos a mediados de otoño y el solcito pegaba lindo, sí, y yo me sentía feliz de que me hubieran elegido para la misión. Uno se harta de estar ocho, diez horas de pie en una alcabala, controlando todo como si realmente la historia fuera a pasar por ese pedazo de carretera vieja.

Todavía faltaba un buen trecho para llegar al aeropuerto, así que tuve tiempo de observar con calma a las personas que iban en el Ford blanco, aunque no los veía muy bien. Tres de los cuatro hombres eran morochos, de pelo negro; el cuarto no, era rubio, de tez blanca, joven. Este iba sentado en el asiento de atrás, a su lado iba la piba y al lado de ella un señor mayor. Ella tenía una cara muy triste y parecía muy joven, no le calculaba más años que los míos, que estaba por cumplir diecinueve. Los hombres que iban atrás hablaban mucho entre sí, gesticulando, y a veces se notaba que le preguntaban o decían algo a ella, que respondía brevemente y a veces sonreía. Me hice todo tipo de conjeturas respecto a lo que estaba sucediendo, pero jamás hubiera imaginado que la misión era esa misión.

Finalmente llegamos al aeropuerto. El cabo bajó muy rápido y se fue hacia el edificio gritando  que controláramos todo muy atentamente. Yo no entendía nada. Mientras él se iba el poli se acercó al segundo auto y, pasando la mano por la ventanilla, se despidió de todos los hombres pero de la piba no. Ella lo miraba fijamente mientras él extendía su mano hacia un lado, sonreía, hacia el otro, volvía a sonreír.

Cuando se bajaron del auto pude ver todo mejor, aunque brevemente porque ella y los cuatro hombres se fueron inmediatamente hacia el edificio. Ella tenía el pelo largo y lacio, casi le llegaba a la cintura. Era pequeña de estatura. La tez era levemente oscura y llevaba  vaqueros azules, mocasines marrones y una camisa blanca. Uno de los hombres cargaba un bolso azul pequeño y una guitarra envuelta en papel de diario. La piba no llevaba nada y siempre caminaba en medio de los dos hombres, los mismos que iban sentados atrás en el auto y que tampoco llevaban nada. Ella caminaba muy erguida y tenía los ojos tristes pero secos como si estuviera muerta.

Los hombres seguían hablando y riendo y ella ahí, entre medio de los dos, en silencio, se veía tan frágil. A mí me daba tanta pena ella que amagué mover la mano en señal de despedida aunque ella no me viera, pero entonces uno de mis compañeros me  golpeó y me dijo:
- ¿Qué vas a hacer idiota? ¿No sabés que es una deportada?
Y yo bajé la mano.”

Juan Pérez, ex soldado.
Informe de la Comisión Interamericana de Derechos Humanos, 1982.



Caracas, Diario de Lamentaciones, 17 de mayo de 1979.
¿No es acaso prematuro para la vida de cualquiera tener 21 años y marchar al exilio?
Como prematura fue la madrugada que se desayunó con infinidad de cadáveres.
En el Río de La Plata de a diez y de a veinte aparecían diariamente.
Decían que venían de Uruguay, presos de allá... pero todos sabíamos.
Era macabra la danza de los muertos.
Era macabra la danza de muerte que los militares nos imponían.


Llegar no es mejor que partir.
Es casi de noche y paso largo tiempo mirando los rostros que esperan pero ninguno espera por mí.
Llueve.
Tengo ganas de sentarme sobre mi bolso, hundir la cabeza, cubrir mi cara con mis manos y ponerme a llorar. Pero no lo hago. El tiempo pasa y no me atrevo a moverme.
Con cincuenta dólares me fui, regalo de la Embajada de Venezuela en Buenos Aires y con cuarenta y cinco llego, cinco gastados en cervezas tomadas en el avión. Hay quien toma valium, quien llora, quien pide ayuda, quien grita o va al sicoanalista. Hay quien se suicida también. Yo bebo. Me considero un árbol y, como decía Alejandro Casona, los árboles mueren de pie.
Tomo un taxi y la primera novedad es que el taxista me dice que me siente adelante, porque así se acostumbra acá pero no allá. Pienso, ¿y si me secuestra creyendo que tengo dinero? Pero resulta ser un flor de tipo, periodista además de taxista, y nos pasamos el viaje hablando sobre la miseria en Caracas.
Cuando entramos al primer túnel siento terror, yo que jamás he cruzado uno. Terror como siento desde hace ocho meses.

- ¿Ves esos ranchos? - dice señalando cientos de casuchas en la montaña, un panal de pobreza.-  Parecen fuertes pero no lo son y cuando la lluvia llega caen sobre las calles como hojas apenas tocadas por el viento.

Caracas me parece, de noche y con lluvia, en este angustiante trayecto aeropuerto-ciudad, una inmensa villa miseria iluminando la montaña.



Qué largo se hace el camino cuando no se conoce el lugar de llegada.
Voy a un barrio llamado Santa Mónica en donde vivía, hasta hace un año atrás, mi amiga Viky. Mi familia trató de contactarla el último mes, pero fue en vano. Nadie al teléfono. Nadie al correo.
Viky es chilena y emigró con su familia en 1971. Es una exiliada al revés, porque su padre es un empresario que se fue de Chile escapando del socialismo de Allende. Pasaron primero por Argentina y así fue que nos conocimos, y cuando dos años más tarde se fueron escapando del peronismo que también le parecía a su padre demasiado izquierdoso, nuestra amistad continuó por correspondencia, al principio con fluidez y después en forma esporádica.
Viky, como es  generacionalmente lógico, no comulgaba con las ideas de su padre y llenaba su casa de hombres y mujeres que venían huyendo de las dictaduras de derecha  a los que él, con gran amabilidad, siempre ofrecía un plato de comida. Un par de veces fue de vacaciones a Argentina y aunque los períodos de silencio muchas veces eran muy largos, no había distancia entre nosotras cuando nos encontrábamos.



Los taxistas caraqueños casi  no conocen su ciudad, ellos que deberían ser sus dueños. Una tiene que indicarle el camino y yo no lo conozco porque nunca antes he estado en este país.
Santa Mónica parece un laberinto.
Damos vueltas.
Nos perdemos una y otra vez, regresamos al punto de partida, volvemos a comenzar y volvemos a perdernos.
La lluvia y mi desesperación arrecian.
Ni un alma a quien preguntarle y los nombres de las calles desaparecidos bajo el torrente.
Por fin damos con la calle.
Avanzamos lentamente leyendo los nombres de los chalets a un lado y al otro de la calle, porque en esta ciudad las casas no tienen números sino nombres. Pero la encontramos fácilmente. Es un chalet muy bonito de dos pisos con jardín adelante. Hay dos timbres y ninguna indicación.
Toco el de abajo y un hombre me indica por el intercomunicador que Viky vive en el piso de arriba.
Toco el segundo timbre mientras le hago una seña a mi taxista para que se quede tranquilo. 
Aparece Viky y su alegría es tan grande como mi alivio. Nos abrazamos largamente y nuestras lágrimas se funden con las gotas de lluvia.
-¡Sabía que no ibas a durar mucho en ese país! ¡Tú no cambias más, che!
Busca un paraguas y me acompaña al taxi donde mi buen taxista - “si tu amiga no está no te voy a dejar sola”- sonríe feliz.  Le doy el número telefónico de Viky y le ruego que me llame para no perder el contacto. Promete hacerlo. Mi solidario taxista. Tengo tanto que agradecerle. Y  ni siquiera sé su nombre.


LEJOS DE CASA 
Caracas, 1982-84

Mayo 2015




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LEJOS DE CASA





CONTRAPORTADA DEL LIBRO


Cuando la fotógrafa Marta Mikulan Martin me sacó esta foto en 1983 y me le regaló, yo pensé: el día que me publiquen la novela la pondré en la contraportada. Pensé que iba a ser pronto pero pasaron 32 años. Hoy me doy ese gusto en la novela que estaba escribiendo cuando esta foto fue tomada.

















"Historias de Crisi y su sicoanalista Berlia", cuento largo o novela cortísima de viviana marcela iriart (fragmento) / Escritoras Unidas & Cía. Editoras, abril 2015







Historias de Crisi y su sicoanalista Berlia (fragmento)



Con todo mi amor a mi ex sicoanalista, Doris Berlín,
que me salvó el alma y la vida,
esta pequeña sátira sobre el psicoanálisis,
que tanto respeto.





CAPÍTULO I

Cuando Berlia llegó a la fiesta Crisi ya no tenía nada amable que decir. Había bebido lo suficiente, lo necesario, para encontrar su punto de lucidez. Es en esos momentos en que, al decir de sus amigos, su talento mordaz escupe mejor por su boca. Es el momento en que más trabajo tiene su secretaria, que graba todo lo que Crisi dice y quien, al día siguiente, se encarga de poner por escrito lo que ella dijo. De sus peores borracheras, afirma Crisi, han salido sus mejores escritos. “El talento sin el alcohol”, afirma, “es como el agua: calma la
sed pero no la lujuria”.

Pero no vayan a confundirse. Crisi no es mujer dada a criticar a otras. Le encanta que le cuenten un chisme pero de ahí a repetirlo… ella está demasiado embelesada con su propia vida como para dedicarle siquiera un minuto a la vida ajena. Por eso no notó la llegada de Berlia a la fiesta, tan elegante ella, tan gélidamente cálida, tan sensualmente sicoanalista. Y se fue. Rodeada de su séquito que nunca la abandona.

Berlia siempre ejercía una extraña fascinación sobre la gente. No era exactamente lo que se dice una mujer bella, no, era una mujer, ¿cómo se diría? extraña, sí, tal vez esa sea la palabra, una mujer extraña y misteriosa, tan majestuosamente extraña y misteriosa que se veía hermosa.

Hasta que Crisi se fue, la fiesta había estado, como siempre, en sus manos. Crisi no necesitaba hacer nada para ser siempre el centro de atención, ella simplemente era la reina de todas las fiestas, nadie podía escapar al magnetismo que ejercía su alegría y su locura. Y una reina nunca ocupa el espacio de otra, así que cuando Berlia llegó ocupó, sin ningún ánimo imperialista, su propio reinado. Es que Berlia siempre estaba ajena al impacto que causaba sobre los otros, esos otros que no podían evitar verla a hurtadillas, o descaradamente, mientras tomaba whisky importado, delicadamente, escuchando las conversaciones de su entorno. A veces ella se volteaba, como si sintiera que la estaban mirando. A veces también pasaba que la mirada indiscreta no se apartaba de sus ojos. Entonces ella miraba como sólo ella sabía hacerlo, con ojos de profundidad oceánica. Miraba muy seria, sin molestia, curiosidad o reproche. Ella miraba sólo para poner las cosas en su sitio, y las ponía. Aunque sólo fuera por un instante porque las personas, vencidas por su extraña magia, volvían sus ojos a ella una y otra vez. Berlia parecía darse cuenta de estas claudicaciones porque jamás, en una misma noche, miraba dos veces a una misma persona. Berlia era mujer de un solo
acto.






CAPITULO II

Crisi es tan excéntrica que en vez de usar zapatos usa medias.
Para no ensuciarlas o quemarlas con alguna colilla de cigarrillo tirada en el piso, sus asistentes van siempre delante de ella barriendo las veredas y las calles.

Crisi es tan alegre que nunca nadie ha podido verla triste.
Cuando ella ríe el sol se esconde para no quemarse con la blancura de sus dientes.





CAPITULO III

Cuando Berlia llega a su casa prende la contestadora automática. En vez de oír los mensajes los analiza. La contestadora a veces se enoja y le contesta (es una contestadora muy moderna, como todo en su vida). Berlia la amenaza: “o te callas o te desconecto”. La contestadora sabe que está en sus manos. Por eso la ama. Y por eso también, a veces, la odia.

(Lo que Berlia no sabe es que la contestadora, en venganza, no le graba algunos mensajes. Cuando Berlia se va la contestadora ríe metálicamente a sus espaldas).





CAPITULO IV
Consultorio de Berlia

Berlia está atendiendo a Crisi, que le recrimina que frente a un gran dolor el psicoanálisis no sirve. Berlia, por supuesto, no admite semejante disparate. “Ella no puede admitirlo”, piensa Crisi, “porque sería admitir la inutilidad de su propia existencia”.

Crisi le dice: “Vengo aquí a llorar un gran dolor y tú agarras mis lágrimas y analizas porqué caen y el porqué de su tamaño. No piensas en el dolor por sí mismo. El dolor, por si no lo sabes, es independiente de las lágrimas”.

Berlia responde: “Pienso en tu dolor, sólo que en las causas del mismo, no en sus consecuencias. Me interesa el contenido de la botella no el envase.”

“¡Oh, qué original!” -responde Crisi con ironía- “Tú lo estás admitiendo, claro está, tal vez sin darte cuenta. El psicoanálisis frente a un gran dolor es inhumano. A veces un buen abrazo es más eficaz que un buen análisis”.

Asombrada, Berlia pregunta: “¿Quieres que te abrace?”

Resignada y furiosa Crisi se encoge de hombros.

Lacónicamente Berlia dice: “Tú tienes que hablar de tus fantasías. Es muy importante. Yo no las conozco. Si tú no hablas de ellas yo no puedo adivinar. Soy analista no tarotista”.

Crisi sabe que esta conversación es inútil y Berlia también. Ambas saben que el sicoanálisis que práctica Berlia no admite contacto físico. El sicoanálisis tiene reglas que Berlia le impone a Crisi mientras le habla de libertad.

Berlia, elegantemente vestida de negro, tan moderna ella, se debate en su sillón, negro también, dispuesta a no admitir las fallas de su profesión.

Mientras la escucha, obviamente no puede verla porque está en el diván, Crisi prepara su respuesta con la perversa intención de molestarla, de herirla de muerte si fuera posible. Berlia domina tan bien la situación, y por ende a Crisi, que a ella le provoca meterle los dedos en los ojos para desestabilizarla, aunque sea por un rato.

“Si yo fuera capaz de liberar a mi agresividad en estos momentos”, piensa Crisi, “los diarios de mañana hablarían del asesinato de una sicoanalista en manos de una paciente furiosa de comprensión. Y sé que un ejército de pacientes y ex pacientes aplaudirían felices mi gesto a lo largo del mundo. De hecho, no creo que haya juez ni jueza capaz de condenarme por asesinar en legítima defensa. Berlia no tiene derecho a asesinar mis argumentos y a no ser condenada por ello”.

Berlia, en silencio, espera el contraataque de Crisi, un poco sorprendida de que no haya llegado ya.

“Pero, la verdad, me encanta discutir con Berlia porque ella es inteligente, tremendamente inteligente. Ella es como un cazador, acechando sigilosamente a la paciente, esperando con exasperante calma el momento exacto para disparar la palabra exacta y herir. A veces mortalmente.”

Berlia, con total despreocupación, analiza el estado de las uñas de sus manos. “Tengo que pasar por la manicure”, piensa, “este color no hace juego con mi nuevo vestuario. Y por cierto, hablando de vestuario… ¿seguirá esa oferta tan buena en “Mamarrachos”? ¡Vaya nombre para una tienda! pero su elegancia es de primera. ¿Y esta loquita que estará tramando que pasa tanto tiempo en
silencio?”


Crisi continúa enajenada por sus pensamientos: “Pero a veces logro alterarla. Y ella se escucha tan bella cuando esto sucede que me conmueve. Algunas veces, pocas lo admito, también he logrado que ella se devuelva por el camino de sus palabras y me dé la razón. Son mis pequeños triunfos, los que me permiten sobrevivir en esta batalla en donde llevo ya tantos fracasos. Cuando el psicoanálisis se vuelve guerra, yo vengo dispuesta a matar o morir por argumentos”.

“Ya lo decía mi madre”, piensa Berlia, “con los artistas mejor no tener relación. Son todos locos. Pasan de un estado al otro sin motivo aparente. Y si tienen mucho éxito, como Crisi, ¡válgame Dios! Su ego es tan grande como la carpa de circo más grande del mundo”.

“Pero la necesito”, se dice Crisi, “Y cuando más la amo es cuando más la odio porque odio amar unilateralmente. Berlia cree hoy que voy a dejar la terapia, que lo piense, ¡ja! Ella jamás va a saber que hoy la necesito más que nunca”.



La mano de Berlia persigue a un mosquito.
Falla dos o tres veces en su intento pero finalmente lo aplasta contra la pared.
Una mancha roja se impone sobre el blanco, acusadora.
La mano de Berlia también ha quedado manchada, las patas y las alas del mosquito se confunden con sus líneas.
Después de mirar pensativamente su mano, como si intentara descubrir algo en ella, agarra un pañuelo de papel y se limpia.
Estruja con placer el papel y lo arroja al tacho de basura sin que Crisi se haya percatado de nada.
El rojo de la pared, sin embargo, se hace más vivo.




“Si sus palabras pudieran ser tan lindas como su cabellera”, piensa Crisi viendo la imagen desdibujada de Berlia en la ventana, “Berlia conquistaría al mundo entero. Su cabello de miel, ¡y sin ninguna abeja!”



Historias de Crisi y su sicoanalista Berlia (fragmento) 
Caracas 1989





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