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"Um dia na minha vida é sempre uma coisa muito formosa, porque eu sinto-me muito feliz de estar vivo. Não tenho nenhuma intenção de morrer, tenho a impressão que sou imortal. Sei que não o sou, mas a idéia da morte não me molesta e também não tenho-lhe medo. Denego-lhe existência, então, isso me ajuda a viver de uma maneira, ¿como dizê-lo? Debaixo do sol, solar.
Eu estou muito feliz por estar vivo, e, além disso, há uma coisa na que pouca gente pensa. Acho que é um prodígio maravilhoso que todos nós sejamos seres humanos, que estejamos no mais alto da escala zoológica, por um azar puramente genético. Por que você não é responsável de ser quem é. Vimos de uma longa cadeia genética e quando vejo uma galinha ou uma mosca que também têm nascido das mesmas cadeias genéticas, maravilho-me por ser um homem e não uma galinha. Sou um homem, com tudo o bom e o mau que isso tem. E estou contente em ter tido uma consciência, de ter visto mais do que uma consciência pode ver do planeta. "
Julio Cortázar
Caracas Setembro 1979
Julio Cortázar
Caracas Setembro 1979
Publicado na Revista Semana, Caracas, Novembro 1979
Fotos Eduardo Gamondés
Tradução Alejandra Rodrigues